Betta não morreu!

Hoje a ideia da morte invadiu meus pensamentos.
Sábado tive a notícia que um colega já idoso muito querido por todos morreu.
Domingo a noite meu marido percebeu que o peixe Betta de Ingrid morreu. Betta morava sozinho em seu aquário. Essa raça é extremamente agressiva e gosta de brigar. Morava num aquário pequeno, sem equipamentos para oxigenação, sem adornos, plantas ou pedrinhas. Na verdade, esse não foi nosso primeiro Beta. Já perdi a conta, acho que é o 3º ou 4º, dizem que vivem até 5 anos, mas os nossos não vivem mais que um...
Na cozinha eu, minha mãe e o pai de Ingrid discutíamos: devíamos contar para ela que o peixinho dela morreu? Voto a favor (o meu) e 2 contra, eu tinha que comprar um peixe na hora do almoço para por no lugar de Betta. O problema é que gente nem sempre acha um da mesma cor do falecido, então para Ingrid esse é um peixe camaleão que vive mudando de cor, as vezes vermelho, as vezes azul... Para mim a idéia de dar um bichinho para uma criança é justamente para explicar a morte, prepará-la (se é que existe sentido nisso) para a morte dos entes queridos, mas com que idade a gente deve falar de morte para uma criança? Minha mãe acha que com 5 ou 6 anos... Ora, com 4 anos, um peixe, um gato ou um cão não podem ser de responsabilidade da criança. Ingrid não pode limpar o aquário, nem dar comida, se deixar ela dar comida ela põem flocos demais Betta fica obeso e morre! Realmente, acho que podia falar de uma forma lúdica sobre a morte de Betta dizer que o céu dos Peixes tem um papai do céu chamado Netuno e que lá Betta iria encontrar toda a família dele e fazer uma analogia com que acontece também com os seres humanos. Mas, voto vencido, sai a procura de um Betta novo, dessa vez azul (incrível o fato de nunca acertarmos a cor). No meio do corre-corre do almoço ainda tinha que comparar 1 lata de sardinha para doar para o sorteio de São João da escolinha e tirara folhas de cheque. Como  lei de Murphy diz que se algo pode dar errado, dará não consegui resolver tudo isso num mesmo lugar, sai do Shopping onde comprei Betta e a sardinha e fui para uma agência próxima que tinha máquina de imprimir cheque.
Mas, nesse dia de trabalho estávamos todos consternados. Nosso colega que já havia entrado de licença médica mas sua morte foi uma surpresa. Era gordo, fez bariátrica emagreceu. Conta a lenda que chegava cedo trocava de roupa e ia correr, no outro dia a mesma coisa... com a mesma roupa que ele guardava suja na laje do prédio, ninguém usava a bucha de prato pois delitos asquerosos eram imputados a ele (e me parece que era verdade). Não sei da qualidade do trabalho dele, mas aqueles que conhecia diziam que ele era trabalhador. Para mim ficou esse lado meio lendário que eu não sei onde começa a lenda e onde começa a verdade. Todavia, o que me chamou a atenção foram as demonstrações de afeto póstumas no facebook. Me pergunto: tem facebook no céu? Aquele que rende homenagens póstumas nesse tipo de mídia quer o que com isso? Isso é em benefício para quem morreu ou para quem escreve? Isso lhe isenta de ter maltratado aquela pessoa em vida, ou de não ter ido no enterro dela? Palavras são mais importantes que gestos?
Vi o pequeno corpinho de Betta imóvel na mão do meu marido: e pensei: essa lição eu já aprendi.

ANTES QUE AS FLORES MURCHEM
Se quer me dar uma flor,
que me dê agora.
Se quer me dar um sorriso,
que me dê agora.

Não guarde suas lindas flores,
Para colocar sobre o meu túmulo
quando eu partir.
Seu riso não se transforme em lágrimas
ao invés de sorrir.

Se que me beijar,
que me beije agora.
Se que me amar,
que me ame agora.

Não deixe que as flores murchem
seu beijo se cale
seu riso entristeça
seu amor se perca

quando eu for embora